Formas de transporte de bebés, por Gonçalo Costa

Decidi escrever esta nota sobre forma de transporte de bebés pois acredito que a forma de transporte influencia imenso o estado de saúde de um bebé. Durante esta nota não serão contemplados os ovos e cadeiras de bebés para carros. Nenhuma das formas indicadas deve substituir o ovo ou a cadeira de carro, pois em termos de segurança rodoviária não são indicados.

Durante a época “moderna” sugiram os carrinhos de bebés. Desde autênticas camas com rodas plásticas ou de madeira , a todo-o-terreno com rodas de câmara de ar, passando com carros com 3 rodas, suspensões e baterias para auxiliar na movimentação, encontramos de tudo.

Não consigo ver grandes vantagens nos carrinhos.

  • São grandes,
  • Ocupam muito espaço na bagageira do carro,
  • Reduzem imenso a mobilidade dos pais
  • Andar nas cidades com carrinho é uma tortura
  • Andar com carrinho no campo é uma tortura
  • Andar com carrinho na praia é uma tortura
  • Difícil de empurrar um carrinho nos passeios que temos (arvores, sinais de transito, carros e motas estacionados)
  • Ocupam muito espaço nos elevadores
  • É difícil de os usar nas escadas
  • Em não utilização ocupam muito espaço

Para o bebé não consigo ver grandes vantagens:

  • Está longe da mãe ou pai – não favorece a vinculação;
  • Passa muito tempo deitado -posição favorável para o aparecimento de cólicas;
  • Numa primeira fase anda voltado para os pais mas não os sente. É importante referir a acuidade visual nos bebés atinge-se pelos 3 meses.
  •  Mais tarde depois fica voltado para a frente – não sabe se os pais estão por perto ou não.
  • O bebé não tem forma de ser alimentado enquanto é deslocado
  • Mau para estimular o transito intestinal

Em termos de segurança, não oferece muita:

  • Quando se atravessa uma estrada é o carrinho que vai à frente, deixando o bebé que lá vai dentro completamente vulnerável.
  • É difícil de mudar de direcção rapidamente a empurrar um carrinho.
  • Há muitos carrinhos iguais pelo que é fácil outra pessoa pegar nele.

No entanto, antes da “época moderna” os bebés sempre foram carregados ao colo ou de outras formas. Numa tentativa de reproduzir essa liberdade de mobilidade aparecem os marsúpios, slings e panos de transporte.

Cada um destes com características particulares, contudo tão distintos uns dos outros. Todos eles apresentam algumas vantagens sobre o carrinho:

  • permitem que o bebé ande muito mais perto da mãe/pai, estimulando a vinculação
  • favorecem a verticalização
  • liberdade de movimento para a mãe/pai (carregador)
  • fácil de colocar
  • os bebés que são transportados verticalmente mais rapidamente ganham força no pescoço e pega de mão

Os marsúpios são, de forma simplista umas bolsas (fechadas em todo o seu perímetro ou não, consoante marcas e modelos)  com alças onde os bebés são colocados e carregados pelos pais ao peito ou costas.

Hoje em dia existem 3 posições para carregar bebés em marsúpios:

  • atrás virado para o carregador (frente)
  • à frente virado para o carregador
  • à frente virado para a frente (extremamente incorrecto)

Das formas apresentadas só recomendo as duas primeiras. Os bebés não devem ser carregados à frente voltados para a frente. Esta posição aumenta a lordose lombar, não favorece a eliminação do SEA e revela-se especialmente prejudicial para as ancas, uma vez que as coxas ficam pendentes sem apoio.

Contudo os marsúpios apresentam algumas desvantagens:

  • Normalmente são rígidos, não se moldando ao corpo do bebé – existem excepções
  • Alguns marsúpios, são em caixa (existe uma barreira de tecido ou outro material entre o carregador e o bebé), ficando a mãe/pai sem contacto com o bebé. Estes modelos não são os mais indicados para a amamentação, pois o bebé tem que ser retirado dos marsúpio para poder ser amamentado
  • alguns não dão apoio craniano, pelo que não são aconselháveis para bebes que ainda não têm estabilidade cervical
  • apesar de práticos,  o peso é distribuído por duas alças paralelas. Desta forma o peso é distribuído pelos ombros e não pelas costas. Em períodos prolongados pode tornar-se desconfortável para quem carrega (dores de costas, pescoço e ombros)
  • são na sua grande maioria de medidas pré-definidas. O marsúpio de um bebé de poucos meses não dá para uma criança mais velha

Os slings são uns panos que se usam obliquamente no corpo (tira-colo), podem ser integrais – uma argola de pano não ajustável, ou por outro lado ajustáveis por meio de fechos ou argolas. Tal como os marsúpios permitem algumas posições. São muito simples de usar e colocar. Favorecem o contacto com a mãe (carregador)

No que diz respeito aos slings a minha principal preocupação é a não simetria quando o bebé está sentado , existindo tendência para que a bacia esteja basculada  lateralmente e obviamente o facto de no carregador o suporte ser feito apenas por um ombro distribuindo assim, de uma forma incorrecta o peso do bebé na coluna do carregador. Se for para transportar bebés pesados durante algum tempo torna-se muito desconfortável.

Finalmente, e na minha opinião,  como produto de eleição aparecem os panos de transporte (tira de tecido especialmente concebido para carregar bebés com as seguintes medidas aprox. 60cmX 470cm).

Apresentam todas as vantagem dos marsúpios e dos slings sem apresentar as desvantagens.

  • promovem o contacto da mãe e bebé,
  • permite a amamentação directa
  • servem para qualquer bebé mais velho ou mais novo, maior ou mais pequeno
  • Serve para qualquer carregador independentemente do seu tamanho
  • as alças ocupam todo o ombro favorecendo uma boa distribuição da carga
  • permite aproximadamente 10 posições para carregar, embora como osteopata recomende apenas 2 ou 3.

O pano apresenta como principal desvantagem a não aplicação directa. Enquanto que os marsúpios e os slings são tão simples de aplicar como pôr uma mochila às costas (ou à frente) tenha esta 1 ou 2 alças, o pano implica ter que aprender a colocá-lo de forma a criar o apoio pretencido. Existem marcas que com o pano incluem um DVD com instruções de utilização.

Existem muitas marcas. Não tendo esta nota qualquer objectivo comercial, penso que a escolha do pano deve ser feita perante a análise de alguns critérios, como:

  • O tecido deve ser agradável ao toque. O bebé pode lá passar algumas horas da sua vida é importante que seja um local onde ele esteja confortável.
  • Origem dos corantes que tingem o pano. Os bebés que são transportados em panos ganham rapidamente a pega de mão e rapidamente têm tendência de levar o pano à boca. Os corantes que tingem o pano devem ser seguros para o bebé.
  • Maleabilidade do tecido. O pano passa em torno dos carregador vários vezes. Ter um pano grosso (ex. lona) torna-se rapidamente desconfortável.

Normalmente as diferenças nestes critérios originam preços diferentes.

Assim, em termos de análise e de conceito de produto (sem indicar ou centrar-me em marcas ou modelos – e é importante saber que existem muitas marcas diferentes de cada um destes produtos) faço a seguinte classificação:

  • CarrinhosNota negativa – além de poderem ser usados por pessoas que não possam carregar os bebés, não encontro vantagens na utilização de carrinhos
  • MarsúpiosNota média-baixa/média – modelos com caixa criam uma barreira,  apesar de fáceis de colocar em utilização prolongada tornam-se desconfortáveis
  • SlingsNota média – Fácil de colocar, favorecem o contacto mas a distribuição da carga é de forma assimétrica – não aconselhável a quem tenha problemas de coluna
  • PanosNota média-alta / alta – muito confortável, estável para carregador e bebé, permite e favorece o contacto. Requer aprendizagem para aplicação.

Em conclusão é importante que o transporte de bebé favoreça a vinculação com a mãe/pai, que não represente para o bebé um potencial de agravamento de estados desconfortáveis (cólicas, prisão de ventre, restrição de mobilidade) e que favoreça o seu desenvolvimento psico-motor de forma harmoniosa.

Texto da autoria de Gonçalo Costa, Osteopata.

Saibam mais na sua página de facebook Consultório de Osteopatia.

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1 thoughts on “Formas de transporte de bebés, por Gonçalo Costa

  1. Marta diz:

    Sou mãe à 5 meses! Desde o seu nascimento que uso o pano. É maleável, é suave, é confortável, é vinculativo. Estamos a crecer – o bebé, os pais, e as maneiras/posições de transporte. Já vamos na terceira e acredito que muitas mais virão.
    É prático para o cuidador, é essencial para o bebé.

    Foi muito positivo ter lido este artigo.
    Obrigada.
    Marta

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